TERMO
DE REFERENCIA DA CULTURA NO FSM
01. A Cultura movimenta a história,
irriga as florestas, carrega a memória e o destino, cria e transborda as
práticas de nossa Política. Ela é a subjetividade de nossa organização, nosso jeito
de reunir, planejar, tomar decisões, atuar, refletir, reconhecer, resistir e
transformar. Ela media a produção e reprodução da vida cotidiana, como nascemos,
alimentamos, brincamos, amamos, falamos, transamos, fazemos amor, trabalhamos, rimos,
dançamos, sonhamos, casamos, sofremos, organizamos, resistimos, educamos nossas
crianças e enterramos nossos mortos. É como entendemos a nós mesmos no mundo e
como vivemos esse entendimento. Se não a entendermos e fazermos nossa própria
cultura, podemos ser dominados e traídos sem percebermos, atuando contra nossos
próprios interesses. Urge então que o Fórum Social Mundial 2009 assuma a Cultura
como a forma das estratégias e ações da
sociedade civil organizada e dos movimentos sociais, para que os conteúdos e os
valores defendidos possam ser imaginados, representados e expressados independente
e criativamente, em nossas linguagens múltiplas, de manifestações diversas e inclusivas;
02. Esperamos aprofundar e ampliar os
consensos que organizam nossas lutas políticas por outros mundos possíveis pela
compreensão e integração da Cultura como dimensão prioritária nas políticas e
processos de transformação sócio-econômico-ambiental, coerente com a Carta de
Princípios do FSM. A Cultura deve ser vista como um espaço histórico de valorização
e reinvenção das formas e sentidos da vida a partir de uma ética e estética que
refletem os valores e o sentido das transformações que defendemos;
03. O Fórum Social Mundial deve ser um
espaço de articulação, encontro e conexão entre indivíduos, grupos e movimentos
culturais e sociais que tenham como metas encontrar formas criativas,
aprofundar e ampliar os caminhos de comunicação entre os vários setores das
sociedades e dos povos comprometidos com a transformação dos valores e das práticas
dominantes;
04. É fundamental que se crie no FSM, um
espaço de valorização da Cultura como uma expressão dos valores e dos
princípios que organizam as relações humanas e o mundo político, promovendo um
diálogo articulado e fértil entre as tradições e saberes dos povos, as expressões
e práticas artísticas e os discursos políticos estabelecendo novas formas de
comunicação;
05. O FSM deve desconstruir a lógica
mercantil da Cultura dominante e valorizar as Culturas dos povos e suas
expressões artísticas, na medida em que é nela que os valores e os direitos
humanos são visibilizados, os novos signos são produzidos e incorporados, atuando
como agentes efetivos de afirmação das identidades, da elevação da auto-estima
e, conseqüentemente, das transformações que permitam a experiência da emancipação
dos diversos sujeitos, da defesa da biodiversidade e da sustentabilidade da
vida do Planeta;
06. O FSM deve ser o espaço que
propicie o encontro entre as várias linguagens de reflexão e comunicação das práticas
e mensagens, na busca de outros mundos possíveis; e a possibilidade da
materialização de pedagogias que inovem e permitam a construção ou ampliação de
métodos, processos e ferramentas educativas por meio dessas múltiplas
linguagens articuladas;
07. A transversalidade da Cultura é
garantida fundamentalmente pela comunicação não apenas instrumental, mas
especialmente entre os comprometidos com a transformação social, já que a
imprensa e os meios dominantes são voltados para o mercado, limitando de forma
destrutiva o direito à informação;
08. Que a Cultura assuma uma
transversalidade em todas as iniciativas como busca de novas ferramentas
informativas, dialógicas, educativas e sensibilizadoras de comunicação,
essenciais para a expansão estratégica das mensagens que defendemos. É na
interface entre Cultura – Comunicação - Política que as estratégias e as ferramentas
transformadoras devem ser pensadas;
09. As manifestações culturais e
políticas dentro do FSM devem valorizar prioritariamente as vozes dos grupos
“subalternizados”, vozes daqueles e daquelas que geralmente estão invisíveis,
inaudíveis em decorrência da predominância dos valores definidos pelas classes
dominantes e pelo chamado “mercado”;
10. As iniciativas culturais e
artísticas deverão valorizar prioritariamente os temas Amazônicos, ambientais e
as questões urgentes relacionadas à mudança climática no Planeta;
11. A Cultura Amazônica no FSM deve ser
devidamente mostrada a partir dos verdadeiros signos que a tornam berço da
maior biodiversidade planetária. Não mais no campo do exótico, mas do
re-conhecimento e valorização de suas peculiaridades inerentes, capazes de
dialogar, se comunicar, acolher e promover uma síntese criativa entre Ocidente
e Oriente, Sul e Norte, por um outro mundo possível;
12. Neste sentido o GT de Cultura propõe
o desafio para o FSM de 2009: a construção de uma metodologia dialógica que
estimule a articulação das tradições dos povos e das atividades artísticas com
os seminários, palestras, depoimentos. Assim, esperamos que a apresentação dos
objetivos, dos temas e discussões, sejam momentos de vivências, reflexões e partilhas
criativas que se estendam para muito além do instante de realização do grande
encontro, capazes de provocar transformações pessoais cotidianas, para que
então alcancemos a tão sonhada coletividade humana mundial.
TERMO DE
REFERÊNCIA construído no Seminário do GT CULTURA, PREPARATÓRIO AO FSM 2009 – 28
e 29 de Agosto de 2008, em Belém.
Contribuições
na síntese: Iara Pietricovsky de Oliveira, Déa S Melo, Dan Baron.
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